Este artigo fala sobre os benefícios da atenção plena, ou mindfulness, explicando os princípios desta atividade mental.
Sobretudo, conhecer um pouco mais sobre os a prática de atenção plena (mindfulness) é necessário porque serve como base nas práticas de arteterapia.
Em princípio, muito antes de conhecer a arteterapia, eu já praticava meditação. Então, fazendo cursos de meditação, conheci diversas técnicas.
Ao final, tudo isso me levou a uma única conclusão: de que todas as formas de meditação estão baseadas em focar a atenção.
À primeira vista, pode parecer redundante falar de foco e de atenção. Pois, para estar atento é naturalmente necessário focar.
Embora o pensamento seja uma atividade atencional, a mente por si só tende a se apegar a percepções externas imediatas, como ‘ganchos’ de pensamentos involuntários que ocupam espaço do nosso campo mental.
A mente
Isto ocorre porque a mente é um agente a serviço de resolução de problemas. Por sua vez, resolução de problemas significa encontrar um estado favorável de satisfação emocional diante daquilo que vivenciamos no dia a dia.
Ou seja, aquilo que vem de fora pode parecer uma ameaça ao bem-estar. Portanto, é considerado desfavorável e eliminado do radar mental.
Desta maneira, a mente seleciona como foco somente aquilo que pode trazer:
- soluções para um estado satisfatório ou
- recompensas para reestabelecer insatisfações.
Como resultado, a mente se mantém inconsciente da maioria das emoções que ocorrem internamente.
Por outro lado, se apega de tal forma a busca de soluções e recompensas que gera uma série de pensamentos críticos e invasivos.
Os Pensamentos
Os pensamentos são frutos das atividades mentais.
Aliás, eles são os instrumentos da mente para buscar soluções e recompensas.
Se tentamos cessar a sua atividade mental (de “pensar”) e notará que há muitos pensamentos (muitas vezes despercebidos) que passam o tempo todo pela nossa cabeça.
Frequentemente, são pensamentos do tipo:
“Devo fazer isto ou aquilo hoje”;
“Não posso deixar de fazer isto ou aquilo”;
“Tal pessoa me criticou e devo fazer algo a respeito disto”;
“Tem algo (um som, um cheiro, ou uma dor física) me incomodando” etc….
Tais tipos de pensamentos incessantes são a linguagem das atividades da mente buscando soluções, satisfação ou recompensas.
Todavia, não nos damos conta que eles estão sempre nos impulsionando a fazer algo.
Efetivamente, muitas vezes o que acontece é que não temos como agir imediatamente, mas os pensamentos não cessam e persistem.
Por conseguinte, tais pensamentos ruminantes se acumulam e geram tensão emocional interna, que resulta em conflitos internos.
Os conflitos internos desencadeiam emoções inconscientes
Os conflitos internos surgem com os problemas não resolvidos que desencadeiam emoções internas inconscientes.
Tal desencadeamento dispara uma reação hormonal e neuronal que desequilibra a atividade cerebral, dando tilt (ou uma espécie de travamento),
conhecido cientificamente como incoerência das atividades neuronais.
Segundo o neurofisiologista Wolf Singer, essa incoerência significa que os pensamentos geram neurônios incompatíveis entre si, provocando instabilidade.
Então, os neurônios não encontram uma maneira de sincronizar as informações e a nossa mente não consegue chegar a soluções, entrando em estado de travamento.
Tal condição ativa o cérebro emocional, como um sistema de alerta (a amígdala – parte do sistema límbico), gerando uma rede de conflitos internos, que resulta em ansiedade.
Em síntese, o subproduto dessa incoerência é a uma incontrolável série de pensamentos conflitantes que atormentam a consciência e o nosso bem-estar geral.
Em psicologia, este tormento se chama ruminação de pensamentos, que encobrem emoções inconscientes.
Ou seja, quando entramos neste estado, ficamos presos em conflitos, aparentemente sem solução, ruminando pensamentos incômodos e invasivos.
Quando não conseguimos encontrar solução
Singer considera que a ruminação acontece quando não conseguimos encontrar uma solução e recorremos a buscar causas nas experiências passadas para obter o controle dos resultados futuros.
Consequentemente, os pensamentos ruminantes se intensificam, impedindo a regulação emocional eficaz, orientada para a execução de uma tarefa.
Assim, ocorrem os déficits do sistema de troca de informações entre os neurônios que conduzem a perdas momentâneas de memória de trabalho.
Isto resulta em uma sensação de falta de controle e de estar sem direção ou sem saber o que fazer.
Conforme explica o monge budista Matthieu Ricard, esta situação é a imagem do apego do nosso ego ao controle. Como resultado, a reação exagerada do ego à falta de soluções causa ruminação de pensamentos indesejáveis.
Ainda, ele acrescenta que todo esse processo faz com que o ego busque proteção e controle e entre em uma bolha de egocentrismo.
O agravamento deste estado leva a quadros de depressão e a vários distúrbios cognitivos.
Em decorrência disso, a ruminação é o caminho para a patologias cognitivas e psíquicas.
Benefícios da atenção plena
Um dos benefícios da prática da atenção plena é nos ajudar a nos livrar dos pensamentos críticos e ruminantes e abrir a bolha dos apegos do ego.
Quando entramos em estado de plena atenção, a mente se concentra em um determinado foco.
Enquanto este estado pleno de atenção se mantém, acontece um entrelaçamento harmônico entre o ambiente interno e o externo mental, eliminando a atenção crítica.
Por exemplo, é como se houvesse uma limpeza da ferrugem e da poeira mental da consciência, abrindo espaço para a autoconsciência.
Consequentemente, os conflitos são pacificados e nos sentimos equilibrados.
Consistentemente, pesquisas em neurobiologia provaram que as atividades cerebrais dos meditadores habituais mostram um aumento na frequência gama na sincronia neuronal.
Particularmente, essa frequência está envolvida em mecanismos de atenção que eliminam pensamentos analíticos e críticos e facilitam as conexões e a troca de informações de neurônios entre as áreas emocionais e racionais do cérebro.
Desse modo, levando a conscientização de emoções, pensamentos e sentimentos, coordenando-os e facilitando as soluções de conflitos.
Em outras palavras, a prática da atenção plena afeta a coerência neural nas áreas cerebrais relacionadas com a regulação emocional.
Pois, proporciona a concentração no aqui-e-agora, alívio emocional e prazer.
O resultado é que a meditação, como treino de atenção plena, pode mudar os circuitos cerebrais. O budista Matthieu Ricard e o neurologista Wolf Singer discutem longamente sobre isso em um livro sobre as relações entre cérebro e meditação.
A necessidade de suspender as faculdades críticas
A necessidade de suspender as faculdades críticas é a chave para a liberação da imaginação.
Psicologicamente, CG Jung afirmou que a suspensão de nossas faculdades críticas dá livre curso às fantasias.
Segundo ele, ao estarmos atentos, permitimos que a consciência se torne uma testemunha interior atenta aos conteúdos inconscientes.
Em seu método de Imaginação Ativa ele mostra que a prática meditativa de mindfulness, ou atenção plena, é o meio para acessar o inconsciente.
Enfim, a etapa final deste exercício de atenção (através da imaginação ativa) leva a uma compreensão profunda dos significados das imagens que surgem do inconsciente, traduzindo emoções e pensamentos escondidos em experiências significativas.
Porém, para que a consciência compreenda tais experiências é necessário a expressão das imagens mentais através de em trabalhos criativos.
Desta forma, o ideal é ter um canal criativo de expressão, que a arteterapia largamente provê.
Como conclusão, praticando exercícios de atenção plena, podemos acessar emoções e formas de pensamento inconscientes.
Complementarmente, a arteterapia facilita a atenção plena enquanto trabalha com emoções e pensamentos através dos seus canais de expressão criativa. Assim, durante o processo de criação a arteterapia aliada ao mindfulness fomenta a ampliação da consciência e a resiliência emocional necessárias que cada um encontre meios de solucionar conflitos.
Se você precisa pensar soluções, dê uma pausa, respire fundo e sobretudo
antes de pensar, medite!
Uma solução criativa surgirá!
Abraço,
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