São muitos os benefícios da arteterapia para adultos, pois investe em um recurso que todos trazem consigo: a criatividade.
Antes de mais nada, a aplicação da arteterapia é muito versátil, podendo ser adaptada para diversas áreas de atuação social e profissional, em contextos pessoais e coletivos. Pois busca encorajar a autonomia e o respeito à individualidade de cada um, através do encontro do sentimento de prazer em criar.
Todo e qualquer ser humano é criativo. E a dinâmica da sua criatividade é a imaginação e a fantasia. Segundo Carl Gustav Jung, o que devemos ao potencial da imaginação é incalculável!
Especialmente, o adulto precisa resgatar a sua força criativa para ativar sua autoexpressão, como fonte de vida.
Neste sentido, este artigo busca demonstrar os benefícios que da arteterapia para os adultos de maneira a ajudá-los a lidar criativamente com os desafios dessa fase da vida.
Por isso, sugiro começarmos por compreender o que é ser adulto.
Ser adulto não é questão de idade
De antemão, ser adulto não é uma questão de idade, mas sim de responsabilidade. Isto é o que diz a sabedoria popular. Em parte esse chavão está correto.
Segundo o psicólogo Erik Erikson, até por volta dos trinta anos de idade, estamos construindo a nossa individualidade, buscando encontrar nosso caminho, ou algo que nos sustente e nos represente.
Sem dúvida, isso envolve a busca profissional, as escolhas das relações pessoais e o nosso papel social.
Definitivamente, esta é uma fase importante, porque desenvolvemos nosso sentido de compartilhamento e de intimidade. Assim, não é à toa que Erikson considera que é nessa fase da vida que aprendemos o sentido de amor pelos outros e por nós mesmos.
Não é preciso dizer que estes anos da vida são os mais dinâmicos e muito desafiadores, nos trazendo sentimentos enfáticos de êxtase e de frustrações.
À medida que consolidamos os valores adquiridos pelas experiências desta fase da juventude começamos a construir nosso legado.
Como lidamos com o nosso legado
Como lidamos com o nosso legado depende de como buscamos nossas motivações e conquistas. Não importa realmente medir o sucesso, mas sim o quanto empreendemos em termos de energia e de força de vontade. Ou seja, esse empreendimento é a base do nosso legado.
Em outras palavras, o quanto investimos motivação em nossas conquistas vai se refletir na construção do nosso legado.
Na verdade, são as nossas motivações intrínsecas que nos levam a arriscar e empreender energia em desafios. Por sua vez, tais motivações são a nossa maior fonte de criatividade, segundo afirma Teresa Amabile (Professora de Administração de Negócios e Doutora em Psicologia)..
Em contrapartida, Erikson considera que na fase entre os trinta e cinco e sessenta anos investimos na formação de um futuro legado, através do sentido de criatividade produtiva. Isso envolve o senso de comunidade e do cuidado com o outro e com tudo o que compõe nosso meio.
Isto quer dizer que os adultos nesta fase passam gradualmente a valorizar o senso de comunidade, expandindo a sua responsabilidade e os seus cuidados para os outros.
Enfrentamos desafios e reconhecemos o que nos fortalece
Ao passo que enfrentamos desafios, reconhecemos o que nos fortalece e as nossas fraquezas.
Deste modo, nos tornamos mais empáticos aos sentimentos dos outros, com suas diferentes visões de mundo.
Em termos psicanalíticos, evoluímos do narcisismo para a alteridade.
Ainda assim, esta passagem é longa e em um certo momento, a partir dos nossos erros e acertos, reconhecemos que trilhamos um caminho bem delineado.
Contudo, atualmente muitos adultos precisam de ajuda para trilhar esta passagem, pois é um caminho pedregoso e às vezes perigoso, com trilhas obscuras.
Analogamente, Guimarães Rosa ilustra bem o que é trilhar este caminho:
“A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda e num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver não é muito perigoso?!”
Ser criativo ajuda a atravessar esse rio
Para atravessar esse rio precisamos ser criativos.
Antes de mais nada, para o adulto de meia idade, essa travessia é sempre a mais crucial e desafiadora.
Carl Gustav Jung também tentou entender a psicologia dessa transição para a fase madura. De acordo com Jung, esta fase inicia-se aproximadamente aos 40 anos.
A saber, essa é uma das mais importantes fases de transição de valores. Pois, geralmente, nessa fase de transição, há uma inversão de valores pessoais.
Por isso as pessoas podem se sentir sem direção, uma vez que alguns valores e crenças começam a perder sentido.
Por outro lado, para o psicólogo James Hillman, esta fase marca um conflito entre dois polos antagônicos.
Segundo ele, de um lado vivemos ainda o arquétipo da ‘juventude pueril’, marcada por valores idealistas de inventividade e liberdade para se expandir no mundo.
Em contraste, o arquétipo do ‘velho sábio, ou senex’ se apresenta nessa fase de transição, cobrando estrutura, disciplina e consolidações definitivas.
Acima de tudo, esses dois lados são ao mesmo tempo conflitantes e complementares nessa fase. São irreconciliáveis, mas interdependentes.
Aparentemente, esse conflito se torna indissolúvel e nos perdemos nessa confusão.
A fase madura marcada pelo ciclo de Saturno
Aliás, a fase madura é marcada pelo ciclo de Saturno, que em astrologia simboliza o valor educativo da dor. Saturno nos ensina a integrar o conflito do envelhecer.
O seu ciclo marca passagens de amadurecimento: entre a juventude e a velhice e entre os valores exteriores que nos são impostos, ou que adquirimos através dos outros, e valores interiores que descobrimos dentro de nós mesmos.
Isso é bem demonstrado pela psicóloga junguiana e astróloga, Liz Greene, em seu livro Saturno:
“O papel de Saturno enquanto Fera é um aspecto indispensável do seu significado, pois, conforme nos relata o conto, a Fera só pode se libertar do encantamento e se transformar em Príncipe quando for amada por aquilo que ela é.”
Por isso, Jung nos diz que essa fase do amadurecer como adultos envolve uma busca espiritual e cultural de autorrealização criativa e contemplativa. Essa busca visa a criação de novos valores para ocupar o lugar de antigos valores desgastados, dando um novo sentido à vida.
Ou seja, precisamos aceitar aquilo que somos e dar mais atenção aos nossos valores interiores. Isso requer uma busca criativa se quisermos atravessar o rio, com o menor risco possível e com perspectivas positivas de alcançar a outra margem.
A travessia criativa
A travessia criativa é possível desde que nos comprometemos a valorizar nossa capacidade de produção criativa.
Conforme a psicóloga Teresa Amabile ressalta, a criatividade é um potencial humano que as pessoas automotivadas utilizam para combater o conformismo, buscando ser mais independentes emocionalmente.
Como resultado, desenvolvem resiliência emocional, tolerância às ambiguidades e persistência.
Portanto, desenvolver o potencial criativo é o remédio para o vazio e o conflito existencial dos adultos e para a criação de novos valores.
Cultivando um estilo de vida criativo
É importante cultivar um estilo de vida criativo?
Ao fazer esta pergunta, nos damos oportunidade de mudar as nossas lentes de visão de mundo.
Então vamos experimentar ver como estão as nossas lentes. Pense se você:
- gosta de se atualizar sobre um pouco de tudo
- busca experimentar algo novo para manter a mente alerta
- está em contato com o mundo das artes: cinema, teatro, música, artes plásticas, museus etc.
- se identifica com as novas tendências mais integrativas e menos intrusivas de cuidar da saúde
- acredita que tem um potencial individual a desenvolver
- se compromete em buscar o bem-estar interior com o si-mesmo.
Em suma, se você concorda com grande parte dos questionamentos acima, certamente busca adaptar seus propósitos de vida de maneira criativa.
De qualquer forma, uma pessoa que cultiva um estilo de vida criativo terá melhores condições de lidar com processos do amadurecer e do envelhecer.
Do mesmo modo, encontrará na arteterapia uma grande aliada para ajudar nas dificuldades destas fases de transição.
As dificuldades, as incertezas, as esperanças e os medos
Juntamente com os questionamentos, vêm as dificuldades, as incertezas, as esperanças e os medos
Em primeiro lugar, nessa fase adulta questiona-se a capacidade de ser criativamente produtivo. Pois, o adulto nesta fase mais madura começa a sentir que o momento de construir bases já passou, ou está se concluindo.
Então, a tendência é de surgir um vácuo, um vazio, ou uma sensação de falta de rumo. Contudo, este é um incômodo momentâneo natural de quando se dá conta de que algo novo está surgindo.
Por exemplo, é como se alguma coisa estivesse perdendo o sentido de ser, para que outro novo sentido de vida surja. Entretanto, a dificuldade está em saber para onde e como fazer esta transição.
Ocasionalmente, porém, ocorre a frustração de não se saber como fazer valer o que mais se tem de importante: a experiência de vida.
Apesar de parecer fácil, é neste ponto que o adulto se depara com a dificuldade em encontrar uma forma criativa de expressar o seu legado.
Sobretudo, este adulto que espera colocar a sua experiência a serviço dos outros.
Em outras palavras, que espera poder contribuir com a comunidade, se sentindo pertencente a algo muito mais amplo.
Um novo sentido de pertencimento
Portanto, nesta fase de transição busca-se um novo sentido de pertencimento. Assim o pertencer a um lugar novo é outro grande desafio do adulto, como Clarice Lispector descreveu brilhantemente:
“A vida me fez de vez em quando pertencer,
como se fosse para me dar a medida do que
eu perco não pertencendo.
E então eu soube: pertencer é viver”.
Certamente, o medo maior é de não conseguir encontrar esse novo sentido de pertencer, sendo útil aos outros e sentindo a vida fluir satisfatoriamente.
Este fluxo nos leva de encontro com o nosso eu interior criativo, preservado pelos nossos valores e gostos pessoais! Esse é o barco que nos leva e ao mesmo tempo nosso porto seguro criativo!
Para que serve a arteterapia nesta fase da vida adulta
Nesta fase da vida adulta, a arteterapia serve como ferramenta criativa para trabalhar com os desafios específicos deste período de vida.
Seja como for, qualquer adulto que se sente sobrecarregado ou pressionado pelo mundo agitado em que vivemos deve tentar a arteterapia.
As produções criativas lhe dão chances de desacelerar e explorar quaisquer problemas que uma pessoa possa estar tendo.
Além do mais, a arteterapia funciona como meio de preservação e de melhora da saúde mental.
De antemão, é preciso notar que não é preciso ter talentos artísticos para tentar a arteterapia. Pois o foco está no processo e não no produto final.
Da mesma forma, a arteterapia não vai transformar você em um/a grande artista, mas vai lhe ajudar a encontrar significado e conexão em sua vida. Tudo que você precisa para isso é vontade de experimentar.
O processo arteterapêutico beneficia o autoconhecimento
Acima de tudo, o processo arteterapêutico beneficia o autoconhecimento que é o percurso do caminho de individuação que leva a autodescobertas surpreendentes e a um novo sentido de vida. Ainda mais para os adultos que estão ou se aproximam da meia-idade.
Na verdade, a segunda metade da vida exige a necessidade de mudança de foco. Pois esta fase transitória tem tarefas específicas de desenvolvimento.
Enquanto as tarefas de desenvolvimento da juventude se concentram no aspecto exterior da vida (social, profissional, est), o objetivo da fase madura é entender a vida por dentro, integrando as partes consciente e inconsciente do eu.
Por sua vez, o atendimento arteterapêutico proporciona essa dinâmica de integração, por ser um veículo de compreensão subjetiva.
Os benefícios da arteterapia para os adultos
Há muitos benefícios da arteterapia para a fase adulta.
Primeiramente, as atividades arteterapêuticas proporcionam meios de capturar e visualizar pensamentos sutis e subconscientes que podem estar sabotando o nosso bem-estar.
A princípio, a intenção dessas atividades é servir como veículo para compreender pensamentos e emoções escondidas.
As atividades de arteterapia beneficiam o adulto integralmente
As atividades de arteterapia beneficiam o adulto integralmente, oferecendo-lhe meios de lidar com material concreto e movimentos para expressar emoções e pensamentos. Por isso proporciona o modo ideal de conectar corpo, mente e alma.
Neste sentido, dá suporte para o surgimento de insights, aceitação e autoexpressão.
Ao mesmo tempo, melhora o foco mental, pois expressar-se criativamente é um exercício de atenção plena (ou mindfulness).
Aliás, estudos mostram que criar arte tem efeito benigno sobre as atividades neurais e fisiológicas do cérebro, tal como a estimulação de dopamina, que afeta o humor e a sensibilidade ao prazer. Em outras palavras, é o neurotransmissor que nos faz sentir mais felizes.
Enfim, sendo a arte uma atividade relaxante, é inspiradora para muitas pessoas.
Independentemente de escolhermos criá-la ou simplesmente observá-la e apreciá-la, as atividades artísticas nos trazem sempre benefícios particulares da expressão criativa, que vão muito além do relaxamento e do prazer.
Certamente, a arteterapia é um canal terapêutico de expressão criativa que serve como instrumento de autoconhecimento para enfrentar os desafios da vida adulta.
Espero ter conseguido demonstrar os benefícios que a arteterapia proporciona para auxiliar os adultos a lidar criativamente com os seus desafios da vida.
Obrigada pela sua leitura!
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Ficarei contente em trocar ideias e informações com você!
Abraço,
Monica
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