Você já ouviu falar de “mindfulness”? Talvez creia que seja a mesma coisa que meditação?
Embora “mindfulness” tenha um caráter meditativo, não se trata da mesma coisa.
Nesta publicação, vamos falar sobre os conceitos mindfulness e imaginação ativa e como se relacionam com a arte enquanto terapia.
Plenitude da mente imaginativa: Mindfulness
Para superar obstáculos externos, precisamos saber estar em consciência.
Isso significa permitir que a mente trabalhe para o aqui e agora. A função da mente é pensar. Assim deve-se libertar a mente dos pensamentos que entravam o seu funcionamento pleno. Deve estar livre para criar a realidade no momento presente. Essa liberação plena e criativa é o que apontamos como Mindfulness e imaginação ativa.
A consciência é, de maneira geral, um campo de interação com eventos externos. Em contrapartida, é reativa àquilo que acontece em nosso interior, sem nos darmos conta.
Falando assim, pode parecer um tom científico e uma realidade distante de nosso dia a dia. Mas, na verdade, ser consciente depende apenas de atitude. Não requer métodos, nem habilidades especiais, nem conhecimentos específicos, nem tampouco talentos.
É só uma questão de se colocar como observador de seus pensamentos.
Você já experimentou fazer isso?
A princípio, parece uma atividade frívola, ou um gasto de tempo ocioso e vazio. E deixamos tudo para lá, como algo inútil. Contudo acredite que essa é a melhor prática para conduzir a uma vida mais plena, com satisfação e com qualidade.
Sobre “Mindfulness”: atenção consciente
Por que observar os pensamentos é importante?
O ser humano é uma animal adaptável. Para essa adaptação ser bem-sucedida, criam-se hábitos que são bastante funcionais. Por outro lado, tal facilidade pode encapsular a mente e, nos fazer funcionar num modo de “piloto automático”.
Esse “piloto automático” é bastante útil para economizar energia e atividade cerebral. Desse modo, parte do cérebro é poupada nas atividades diárias.
Porém nesse “modo automático” tendemos a reagir emocionalmente aos eventos e somos privados de raciocinar plenamente. Essas reações são tão automáticas que nem nos damos conta do quanto isso afeta nosso equilíbrio físico e psíquico. Em outras palavras, isso acontece por que não nos damos conta daquilo que nos leva a reagir.
O que falta para conseguirmos sair do automático?
Para entendermos esse automatismo, temos que ver o que há dentro. O que podemos encontrar e o que fazer com isso?
Primeiramente, é necessário mudar as nossas atitudes e nossos hábitos mentais. Isso requer a prática da atenção consciente.
A prática desse estado de atenção plena é conhecida como “mindfulness” ou atenção consciente. Ela pode ser exercitada onde e quando quisermos. Não requer aparatos, nem rituais. Basta colocar-se em estado de concentração, ou seja, com atenção à consciência (com+saber; conhecer dentro).
A respiração é o centro da atenção. Pense: o que significa respirar?
Sem respiração simplesmente não vivemos. Não há como negar essa verdade. Estamos vivos porque respiramos. Respirar é essencial para a vida.
Por isso a respiração é tão importante para a concentração da consciência. Pois o exercício propõe a reconciliação com a nossa essência.
O foco da atenção deve ser na respiração, até a atenção se encontrar relativamente estável. Após alguns minutos, somos capazes de observar qualquer evento físico ou mental que pode naturalmente surgir no campo da consciência. A atividade é apenas isso: concentrar-se na respiração enquanto observa-se os pensamentos.
Os pensamentos devem ser observados com atenção e curiosidade, ao invés de serem julgados ou avaliados.
Embora simples, a ideia de não julgamento pode ser mal compreendida. Como pensar sem julgar?
A questão está no quanto somos enganchados pelos pensamentos e levados por eles. Por exemplo, durante a concentração pode surgir um pensamento trivial sobre uma conta pendente a pagar. Nesse caso, a tendência é de nos engancharmos e interagir com esse pensamento, com ideias do tipo, devo fazer isso…, preciso fazer aquilo…, etc.
Por que o não fazer pode ser mal ou errado e o fazer pode ser bom ou certo?
Isso é um tipo de julgamento, ou melhor, um impulso automático para classificar o bom e o ruim, o certo e o errado das coisas. Pode parecer até proativo pensar naquilo que temos que fazer. Mas, na verdade, estamos reagindo a um mero julgamento.
Naquele momento o que surge é apenas um pensamento.
Pensar em fazer não é uma solicitação. É apenas uma imagem, como uma mera figura naquele instante. Se nos prendermos a ela, estaremos acionando um mecanismo automático movido pelo julgamento.
Os julgamentos são ganchos e também agentes poluidores da mente. São eles que entravam o exercício do pensamento pleno.
Assim o cultivo da atenção consciente, ou mindfulness, consiste em focar a atenção no momento presente, observando os pensamentos que surgem, sem julgá-los. Ou seja, as percepções, as emoções e as sensações são observadas cuidadosamente, mas não são avaliadas como boas ou más, verdadeiras ou falsas, saudáveis ou doentes, importantes ou triviais. Não nos enganchamos nas imagens, ou pensamentos. Eles naturalmente surgem e passam como nuvens flutuantes levadas pelo vento. A consciência somente observa essa passagem.
Os benefícios da atenção consciente: a prática de “Mindfulness”
Colocar-se como observador de si mesmo é uma atitude adquirida através de prática constante. Isso limpa a mente e amplia nossos pontos de vista. Assim conseguimos viver plenamente no presente. Logo podemos entender como melhor conduzir o futuro.
À medida que nos tornamos mais focados e conscientes, tendemos a viver o momento presente, e adquirimos controle sobre como e quando usar o piloto automático. Assim a qualidade de vida pode ser melhorada e o desconforto físico e psíquico reduzido.
Aceitar as coisas como são nos faz experienciar plenamente os eventos, sem defesas.
Isso nos dá uma perspectiva de algo profundamente libertador, pois deixamos de ser prisioneiros de padrões de pensamento.
Atualmente, a ciência tem descoberto cada vez mais benefícios advindos da prática da meditação. Tais benefícios são fisiológicos, neurológicos e psíquicos. Entre eles, há revigoramento do sistema imunológico, diminuição da pressão arterial e do colesterol. Além disso, auxilia em tratamentos de obesidade, de distúrbios de humor, de ansiedade, de dependência química, entre outros.
Focar a atenção é um exercício entre o devaneio e a concentração. É um constante dar-se conta da distração e retornar conscientemente à concentração na respiração. É como exercitar um músculo. Esse exercício ativa e altera condições o cérebro, em regiões corticais e sub-corticais. O resultado é alteração e equilíbrio das frequências de ondas elétricas alfa, teta e gama ao longo dos neurônios. Esse processo de reorganização proporciona mais flexibilidade e conduz à consolidação de funções cognitivas, necessárias para a realização de um objetivo. A mente se torna plenamente livre para desenvolver o potencial criativo.
Essas mudanças levam a maior amplitude de raciocínio e equilíbrio das emoções nas tomadas de decisões e nos enfrentamentos da vida.
A melhor notícia é que as pesquisas científicas demonstram que essas mudanças já podem ser observadas a partir 8 semanas de prática.
“Mindfulness” e a imaginação ativa
A ampliação do campo mental e o aumento da capacidade criativa tornam o sistema emocional menos reativo. Em conformidade, o cérebro fica mais receptivo às experiências. Assim esse estado consciente mais livre pode captar condições e potenciais antes não percebidos. A mente se torna apta a utilizar seu potencial mais objetivamente. Esse processo pode nos reconduzir à nossa essência e a um novo sentido de vida.
O psiquiatra e psicoterapeuta Carl G. Jung utilizou-se de práticas meditativas para conseguir captar imagens internas e emoções inconscientes. Ele se colocou como a sua primeira cobaia para descobrir um meio de comunicar-se com o inconsciente. A meditação para ele foi uma prática importante para ativar a imaginação. As imagens inconscientes provaram ficar mais acessíveis à mente consciente.
“Pescador” de imagens inconscientes?
Essa alegoria de pescaria, ou de colheita pode ser ilustrativa. Pois quando recolhidas pela consciência, essas imagens potenciais se tornam conteúdos criativos, que Jung expressou através do desenho, da pintura, da escultura e da escrita. Ele levou vários anos testando essa maneira de experienciar o inconsciente até conseguir transformá-lo em um processo terapêutico, aplicado aos seus pacientes, que chamou de imaginação ativa, ou criativa.
Como a imaginação ativa pode ser criativa?
Jung encontrou uma possibilidade de dar uma forma simbólica aos conteúdos inconscientes. Segundo ele, imaginação criativa é um processo natural e inato, como uma necessidade interior que todos têm. Não propôs isso como uma técnica, mas sim como um guia. Essa prática de observar imagens mentais e materializá-las de forma criativa nos ajuda a distinguir entre pensamentos, sentimentos, emoções e motivações internas e como estas últimas se diferenciam das exigências externas. Esse processo de diferenciação é também um meio de estabelecer um diálogo entre a sabedoria do inconsciente e a funcionalidade da consciência. Isso dá à consciência capacidade para visualizar um caminho a seguir. Ao final, o processo torna a consciência apta para tomar decisões mais equilibradas.
Em síntese, saber tomar decisões significa sobretudo alcançar condições de suportar as suas consequências, transformando de maneira criativa as adversidades (entre as condições internas e externas) em possibilidades de insights para uma melhor qualidade de vida.
O exercício de atenção consciente torna esse encontro da consciência com a criatividade mais fácil e mais completo. Quanto mais praticamos esse encontro criativo de mindfuless e imaginação ativa, mais facilmente navegamos pela vida e adquirimos maior agilidade e resiliência para lidar com as dificuldades que aparecem.
Há muito mais o que explorar nesse território criativo.
A arte se junta à terapia para oferecer essa prática, como uma maneira de reorganização de peças soltas no tabuleiro da vida. Em suma, a arte usada terapeuticamente é um meio de exercitar a criatividade. Juntando mindfulness com imaginação ativa e arte, tem-se um modo de resgatar a qualidade de vida.
Este post termina aqui, mas falaremos mais sobre mindfulness e arte terapia (ou arteterapia) em posts futuros.
Até a próxima 🤗
Leia mais: Por que o imprevisto causa desconforto
Para saber mais e praticar consulte os links sugeridos abaixo:
Em língua portuguesa:
https://academiademindfulness.com.br/simples-e-natural/ (artigo e vídeo sobre a rotina de mindfulness – tempo: 2’02’’);
https://www.youtube.com/watch?v=6_F3JeO6ImU (vídeo: mais informação sobre mindfulness – tempo: 11’ 50’’);
https://www.youtube.com/watch?v=gKwusfA8y_c (vídeo: mais informação sobre mindfulness psicoterapêutica – tempo: 9’15’’);
https://www.youtube.com/watch?v=kcl87gRy07w (vídeo: meditação guiada – tempo: 6’57’’);
https://www.youtube.com/watch?v=45Oiim2PeT8 (vídeo: dicas de práticas – tempo: 4’48’’);
https://globoplay.globo.com/v/5822478/ (vídeo: demonstração de mindfulness – tempo: 5’ 15’’);
https://exame.com/estilo-de-vida/13-coisas-que-pessoas-com-atencao-consciente-fazem-diferente/ (artigo);
http://objdig.ufrj.br/52/teses/840008.pdf (dissertação de mestrado);
http://repositorio.ismt.pt/jspui/handle/123456789/212 (dissertação de mestrado);
https://www.youtube.com/watch?v=D71N40YRLjM (vídeo sobre imaginação ativa – tempo:1’59’’);
https://www.youtube.com/watch?v=SUMj20Ur8Qc (vídeo sobre imaginação ativa – tempo:6’ 21’’).
Em língua inglesa:
http://www.amishi.com/lab/wp-content/uploads/Paulson_et_al-2013-Annals_of_the_New_York_Academy_of_Sciences.pdf (artigo científico);
https://journals.lww.com/psychosomaticmedicine/Abstract/2003/07000/Alterations_in_Brain_and_Immune_Function_Produced.14.aspx(artigo científico);
https://www.pnas.org/content/108/50/20254.short (artigo científico).
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