As expressões criativas têm função primordial na arteterapia. Esse termo, embora muito usado, ainda é pouco compreendido. De maneira que, em geral, vem equivocadamente associado a talentos artísticos ou modos de fazer arte.
Por isso, a intenção deste artigo é esclarecer o significado e a função do termo “expressões criativas” em arteterapia. Dessa forma, quando você ouvir falar sobre isso, será capaz de compreender as dinâmicas desse processo terapêutico.
CRIATIVIDADE E EXPRESSÕES CRIATIVAS
Para falar de expressões criativas temos que entender o que é criatividade em arteterapia.
Em primeiro lugar, vamos à etimologia das palavras.
A palavra criatividade deriva do latim creare, que significa fazer, produzir, fazer crescer.
Portanto criatividade, como um processo criativo, consiste basicamente em fazer e dar forma a algo.
Já a palavra expressão vem originalmente do latim exprimere, que deriva de dois conjuntos de significados: o primeiro como representar e descrever alguma coisa; o segundo como formar uma imagem.
Mais adiante, no século XV, foi acrescentado mais um significado à palavra expressão, em: expressioun, como a ação de manifestar um sentimento.
Assim podemos compor o termo expressão criativa como fazer ou formar uma imagem que represente alguma coisa, ou mesmo uma ação de formar uma imagem para manifestar um sentimento.
EXPRESSÕES CRIATIVAS NA ARTETERAPIA
As expressões criativas são os instrumentos terapêuticos na arteterapia.
É através dos movimentos de fazer coisas, usando o corpo, que os sentimentos são revelados e manifestados.
Por um lado, este processo terapêutico conduz à compreensão e resolução de estados afetivos conflituosos. Pois a possibilidade de criar uma nova imagem palpável para representar algo intangível favorece a estruturação da personalidade e a expansão da consciência.
Assim facilita, por exemplo, superar uma crise, compreender as adversidades e aceitar situações controversas.
Por outro lado, o fato de ter que solicitar os movimentos corporais para a representação de sentimentos e emoções colabora no desenvolvimento de funções motoras e neurológicas.
EXPRESSAR E CRIAR
As atividades que levam a expressar uma emoção por intermédio de criar um objeto levam ao movimento no processo arteterapêutico.
O movimento, por sua vez, é um importante fator de dinamização daquilo que bloqueia a dinâmica psíquica. De forma que uma crise emocional, uma adversidade profissional, um sentimento controverso, como também uma disfunção neurológica ou motora são fatores que indicam bloqueios.
Desse modo, as atividades que evocam ações de criar desencadeiam movimentos físicos e psicológicos importantes. A importância disso está em poder expressar e trazer à tona aquela emoção ou sentimento que esteja servindo de bloqueio ou uma função mental ou motora que esteja estagnada.
Logo os movimentos gerados pelas atividades arteterapêuticas ajudam a desbloquear conteúdos disfuncionais neuromotores, mentais e emocionais, através da possibilidade de expressá-los.
É importante deixar claro, porém, que tudo o que se passa no corpo e na mente se associa às emoções. Por isso, mesmo em casos de disfunções neurológicas e neuromotoras, os bloqueios estão associados a fatores emocionais.
Ou seja, as expressões das emoções facilitam, por consequência, desbloqueios de tipos emocionais, mentais e motores.
EXPRESSAR EMOÇÕES E RE-CRIAR SENTIMENTOS
Criar na arteterapia é movimento de expressar emoções que leva a recriar sentimentos.
Os sentimentos são formas de elaboração ou compreensão de emoções.
Por exemplo, se passamos por um momento de raiva podemos desenvolver uma aversão àquilo que provocou a raiva. Neste caso a raiva é uma emoção e a aversão é o sentimento resultante.
O que causou a raiva pode ser um fato, uma má interação com o ambiente, uma intervenção externa prejudicial, ou até mesmo um simples mal-entendido.
Seja lá como for, para a arteterapia o que interessa é poder rever a causa, compreender a emoção e recriar o sentimento.
Pois uma emoção não compreendida pode distorcer sentimentos, resultando em bloqueios de origem emocional.
A partir do momento que os sentimentos que estão funcionando como bloqueio são expressos (através do fazer e dar forma a objetos) surge uma oportunidade de recriá-los.
MANIFESTANDO EXPRESSÕES CRIATIVAMENTE: reformulando fatos
Durante todo o processo terapêutico, as expressões criativas estarão se manifestando e dando espaço para reformulação.
O processo de expressão de sentimentos dá oportunidade à reformulação no modo de ver os fatos. Em outras palavras, é o momento de ampliação (ou expansão) do campo da consciência. Essa é a meta da arteterapia.
Partindo do exemplo anterior, o momento de reformulação seria reconhecer o fato que causou a emoção (raiva), entendendo que o sentimento de aversão não é o mesmo que a emoção.
Por fim, chega-se a compreender a emoção como uma reação natural que pode conduzir a diferentes sentimentos mais construtivos.
Assim finalmente uma etapa do processo arteterapêutico alcança seu objetivo.
AO FINAL
Ao final desse processo, o cliente terá aprendido a lidar melhor com as suas emoções. Talvez ele possa até ter descoberto um talento ou uma afinidade com a produção criativa. Porém isso terá sido uma consequência acidental.
As expressões criativas na arteterapia têm o escopo meramente terapêutico, sem pretensões de produzir arte.
Portanto, dito tudo isso, espero que este artigo tenha servido para esclarecer o termo “expressões criativas” e o que a arteterapia busca obter através delas.
Obrigada pela atenção!
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