Há diferenças entre arteterapia e psicoterapia?
De fato, tais diferenças existem, embora sejam pouco divulgadas. Menos ainda divulgadas são as respectivas diferenças entre seus aspectos neuropsicológicos.
Neste artigo vamos ver como essas terapias são diferentes, apesar de manterem entre si algumas semelhanças
O que acontece na arteterapia pode ser semelhante à psicoterapia
O que acontece na arteterapia pode ser semelhante à psicoterapia, pois ambas estão relacionadas à consciência.
Em ambas as abordagens, é comum que os clientes experimentem catarse ou tenham emoções intensas trazidas à tona, levando-os a obter insights.
Além disso, essas terapias também compartilham o objetivo comum de libertar os pacientes de seu sofrimento psíquico incompreendido.
Especialmente, psicoterapeutas e arteterapeutas junguianos, que igualmente buscam tornar os seus pacientes capazes de dar sentido ao próprio desenvolvimento psíquico. Consequentemente, podendo viver uma vida mais significativa, apesar de todos os possíveis contratempos.
Catarse e insights fazem parte
Catarse e os insights fazem parte dos processos terapêuticos tanto na arteterapia quanto na psicoterapia.
Por um lado, a catarse é o processo de liberação e, assim, proporciona alívio de emoções e pensamentos reprimidos.
Em contrapartida, os insights estão relacionados à capacidade de obter uma compreensão precisa e profunda da catarse de uma emoção e de pensamentos subliminares.
Na verdade, qualquer pessoa pode se beneficiar desses movimentos psíquicos, desde que esteja disposta a tentar!
Como funciona a psicoterapia
Geralmente, a psicoterapia funciona, exclusivamente, a partir da relação psicoterapeuta e paciente. Em especial, as abordagens psicanalíticas postulam uma dicotomia entre consciência e inconsciente. Sejam de natureza freudiana e junguiana, o objetivo da psicoterapia é fazer a consciência alcançar o inconsciente, ou desvendá-lo, se preferir. Neste caso, o método de abordagem da consciência é através da terapia da fala, ou da conversa entre analista e paciente.
Dessa forma, a ação do ego está relacionada à consciência, que são todos os pensamentos e emoções que temos, experimentamos e reconhecemos em nossas vidas cotidianas. Ao passo que todos os traumas emocionais, sentimentos contidos e pensamentos encobertos ou subliminares estão ocultos, ou não reconhecidos, na vasta área psíquica do inconsciente.
Basicamente, a psicoterapia é conduzida através do paciente falando sobre suas experiências emocionais e pensamentos ao analista.
À medida que as sessões vão progredindo, com as falas do paciente e a conversa com o analista, a relação de confiança entre eles vai se consolidando.
Então, no decorrer do tratamento, a rígida função de defesa do ego vai cedendo e abrindo espaço para a consciência encarar o que estava velado no inconsciente. Assim, o paciente vai desvendando seus medos, fraquezas, ilusões, obsessões etc.
Particularmente, na psicoterapia junguiana essa abordagem visa levar o paciente a encontrar um novo significado para a sua vida, apesar dos problemas que possa enfrentar.
Dessa maneira, a psicoterapia junguiana permite ao paciente ampliar a sua consciência, tornando-se mais autônomo para a sua auto compreensão e menos suscetível às neuroses.
Como funciona a arteterapia
A forma como a arteterapia funciona pode ser baseada na psicoterapia.
Porque, igualmente, visa desvelar elementos inconscientes, trazendo-os à consciência.
O objetivo final da arteterapia é ajudar os pacientes a compreender a natureza de seu sofrimento psíquico e adquirir sua própria maneira de gerenciar seus conflitos internos em prol de uma vida significativa.
Em arteterapia, a maneira de expressar emoções e experiências se realiza através de ‘imagens feitas à mão e com o corpo’’.
Em outras palavras, cada emoção, sentimento ou pensamento (vindo de experiências, memórias ou sonhos) é considerado uma imagem.
Por consequência, cada imagem assume um formato, que pode ser um desenho, uma pintura, uma colagem, uma escultura, uma dança, uma história etc.
Tais formatos são chamados de expressões criativas, ou produções arteterapêuticas, que permitem um tremendo crescimento emocional.
Cada experiência, ou catarse, traz emoções intensas à tona durante o processo de fazer arte em uma sessão de arteterapia.
Por isso, o arteterapeuta foi formalmente treinado para saber como apoiar o cliente com segurança nesse processo, enquanto um psicólogo e um psicoterapeuta tradicionais não.
Em arteterapia,’uma imagem vale mais que mil palavras!’,
enquanto em psicoterapia é dada ênfase ao paciente ‘falando sobre’ suas experiências, sonhos, sentimentos, emoções e pensamentos.
Principal diferença entre arteterapia e psicoterapia
A diferença principal entre arteterapia e psicoterapia é a abordagem que o terapeuta adota para facilitar a comunicação dos pensamentos e das emoções dos pacientes.
Conforme foi dito, na arteterapia, o paciente comunica suas emoções e experiências através de imagens feitas à mão ou com o corpo. Neste contexto, o método de abordagem não parte da fala ou da conversa, mas sim dos movimentos físicos e das expressões criativas, com formas e materiais artísticos.
Em outras palavras, cada emoção, sentimento ou pensamento (vindo de experiências, memórias ou sonhos) é considerado uma imagem. Assim, cada imagem assume um formato, permitindo um tremendo crescimento emocional.
Logo, a abordagem da arteterapia difere da psicoterapia, sendo que a primeira passa pelas expressões criativas artísticas e a segunda, pela fala.
Arteterapia ou psicoterapia?
Então, como escolher entre a arteterapia e psicoterapia?
Ambas as formas terapêuticas têm seus benefícios. A primeira, através do corpo e das mãos, e a segunda, através da fala e da conversa.
Então, você pode se perguntar… por que deveria procurar arteterapia?
Existem algumas razões possíveis que podem levá-lo à arteterapia.
Por exemplo, se você:
- quer compartilhar algo, mas não consegue descobrir como falar sobre isso;
- sente algo tão profundamente, mas acha difícil encontrar palavras para expressá-lo;
- sente que as palavras não podem realmente explicar a experiência que você passou, ou está passando.
Principalmente, porque muitas vezes não temos palavras para falar sobre nossas experiências, nossos sentimentos e nossos pensamentos. Pois, eles podem estar além das palavras. E é aí que a arte entra como uma saída para seus indescritíveis sofrimentos ou conflitos internos.
Nesse contexto, a presença do arteterapeuta e as conversas entre eles e os pacientes são imprescindíveis. Especialmente, esse acolhimento é mais específico quando os pacientes passam por catarses e insights, a partir de suas produções artísticas, que são as expressões criativas.
Fundamentos neuropsicológicos
Os fundamentos neuropsicológicos da psicoterapia e da arteterapia partem de pontos distintos. No entanto, são substancialmente os mesmos, diferindo apenas do ponto de partida de cada um.
Para introduzir esta diferença temos que falar um pouco sobre a distinção entre os hemisférios cerebrais.
Segundo neurocientistas, enquanto o hemisfério esquerdo abriga regiões da capacidade da fala e tende para um sentido de consciência linguística, o hemisfério direito tende a percepções emocionais e físicas.
De certa forma, os dois hemisférios cerebrais processam a consciência de maneira diferente, pois:
- O hemisfério direito (HD) processa o que recebe e nada mais, e está envolvido com aspectos não literais da linguagem, como humor e metáfora. É assim porque está mais ligado aos sistemas subcortical e límbico do cérebro e processa os conteúdos emocionais das experiências, por exemplo.
- Em contrapartida, o hemisfério esquerdo (HE) faz elaborações, associações e tentativas de atribuir uma explicação coerente para eventos ou comportamentos, mesmo quando não coincide com a realidade. Portanto, é o intérprete de nossas percepções.
Em última análise, o HE tem a tarefa de organizar as percepções e colocá-las em possíveis narrativas expressas em palavras. Assim, está conectado a áreas especializadas da fala, que se localizam no hemisfério esquerdo, conhecidas como áreas de Broca e Wernicke.
O trabalho do HE é criar racionalmente coesão, ordem e sentido, mesmo que isso possa distorcer a realidade.
Por isso é considerado o hemisfério verbal, destinado a confabular, para manter uma ilusão de controle e consistência, que coincide com a tarefa controladora do ego, segundo a teoria junguiana da psicanálise.
A principal missão do ego, assim como dos mecanismos do HE, é manter o controle e a consistência em resposta às pressões psíquicas internas.
Os meios neuropsicológicos da arteterapia diferem da psicoterapia
Os meios neuropsicológicos de ação da psicoterapia diferem dos meios da arteterapia, apesar de seus objetivos finais serem os mesmos.
A primeira busca superar a resistência do hemisfério esquerdo, deixando os pacientes falarem até que sua resistência se renda, para dar espaço ao hemisfério direito para processar as emoções mais livremente. Em outras palavras, é uma abordagem de cima para baixo (ou das áreas corticais para as áreas subcorticais).
Ao contrário, os meios de abordagem da arteterapia visam ativar o HD através de áreas sensoriais (ou subcorticais), relacionadas ao cérebro emocional e, através delas, atingir as funções perceptivas e emocionais do cérebro direito.
Em seguida, visa terminar seu caminho, chegando a ação de falar do HE, como objetivo final.
Em outras palavras, a arteterapia começa por baixo, tocando os sentidos, passando pelas percepções e emoções, e, por último até chega à área superior cortical, que é a área da fala.
Isso quer dizer que a arteterapia faz seu caminho seguindo uma direção de baixo para cima.
Ou seja, em arteterapia o processamento dos conteúdos inconscientes ocorre através de ativação dessa região inferior, desde o cérebro subcortical para o cortical.
Assim, com instrumentos artísticos, a arteterapia visa processar as experiências a partir do cérebro sensorial, passando pelo cérebro emocional, para, finalmente, sintetizar a experiência no cérebro racional.
Por outro lado, a psicoterapia segue o percurso contrário, iniciando pelo cérebro racional, com o instrumento da fala. Portanto, como este aparato tende a insistir em criar narrativas, os processos de tratamento psicoterapêuticos tendem a levar mais tempo para atingir o seu objetivo final.
A arteterapia é mais direta
Entretanto, o tratamento com arteterapia tende a tocar as emoções de maneira mais direta.
Por isso a presença do arteterapeuta é super importante, para poder conduzir o tratamento de maneira a assegurar que o paciente tenha condições de percorrer este caminho.
Pois, as emoções não passam pelo filtro das confabulações do HE. Tudo vem à tona sem palavras. A atuação do arteterapeuta é indispensável para ajudar o paciente a encontrar meios de acomodar, compreender e elaborar as experiências verbalmente.
Como vimos, a abordagem da arteterapia difere da abordagem da psicoterapia a partir do modo como são conduzidas e também com respeito às formas diferentes como acionam o funcionamento neuropsicológico.
Concluindo, tanto a arteterapia quanto a psicoterapia visam trazer à consciência conteúdos inconscientes, que causam incômodos e sofrimentos fora do controle da consciência. Ambas buscam fazer com que os pacientes ressignifiquem e elaborem seus conflitos emocionais. Porém, cada uma a seu modo!
Abraço,
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