A biologia, desde Darwin, tem buscado explicar como evoluímos e por que somos o que somos. E a psicologia poderia oferecer tal explicação?
Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica, reuniu conhecimentos psiquiátricos, antropológicos, históricos , filosóficos e literários para construir a sua teoria. Sua obra, em sua totalidade, é de tal forma complexa e, ao mesmo tempo, fascinante pois nos leva a mergulhar fundo na natureza humana e navegar através da evolução do gênero Homo. Segundo ele, a natureza do instinto guarda as marcas da evolução filogenética do fenômeno psíquico, enquanto sua constituição arquetípica pressupõe desenvolvimento ontogenético. Para haver uma adaptação da psique entre sua condição filogenética e o desafio de sua construção ontogenética através da integração dos arquétipos, a consciência é fator indispensável.
Quão importante será a compreensão da trajetória evolutiva da consciência para a compreensão da psique?
A seguir serão apresentadas reflexões sobre a necessidade de investigar a evolução da consciência:
O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano 4.000 A.C.). E esta evolução está longe da conclusão pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos de psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo (JUNG, 1964, p. 23).
(…) A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está num estágio “experimental“ (JUNG, 1964, p. 24).
Em geral (n)o desenvolvimento físico do embrião humano ecoa os estágios da evolução das espécies , um paralelo expresso como a ontogenia recapitula a filogenia. Algo do mesmo tipo ocorre no desenvolvimento psicológico. Enquanto uma análise pessoal leva alguém de volta à infância e às origens familiares, ela faz esse alguém voltar ao mesmo tempo não apenas à sua infância mas também à infância da espécie. O conhecimento dessas antigas ideias e das imagens da psique do modo como foram vividas pela raça humana como um todo é relevante para o analista no nível da prática (EDINGER, 2000, p.8).
Com esse propósito o pesquisador deve retornar a esses períodos na história humana, quando a formação do símbolo ainda transcorria sem impedimentos, ou seja, quando ainda não havia nenhuma crítica epistemológica da formação de imagens. (JUNG apud EDINGER, 2000, p. 8).
A verdadeira evolução de nosso mundo encontra-se menos em Darwin, apesar de sua formidável e útil metáfora, do que em Jung, que proporcionou ao homem moderno um acesso ao reino eterno da psique. A evolução do mundo encontra-se na evolução da consciência, na evolução de uma consciência da relação entre o indivíduo e o mundo autônomo, entre a sensibilidade humana e as autonomias divinas (HOLLIS, 2005, p. 19).
Como essa evolução contínua e inexorável chegou até nós ?
Estamos longe de ser um produto acabado. Então, para onde esse evoluir inexorável pode nos levar?
À psicologia cabe acompanhar e interrogar esse processo. Estará pronta para desbravar esses novos rumos?
Essa é a primeira de uma serie de reflexões a serem propostas sobre esse tema nas próximas publicações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUNG. C.G. O homem e seus símbolos. 10a Edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1964.
EDINGER,E.F. A psique na antiguidade: Livro Um. 10a Edição. São Paulo. Cultrix, 2000.
HOLLIS, J. Mitologemas: encarnações do mundo invisível. 1a Edição. São Paulo. Paulus, 2005.
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