A arteterapia é para crianças e para todas as idades. Pois a arteterapia é criativa como as crianças de qualquer idade são!
A arteterapia criativa se aplica às crianças, como um meio terapêutico de tratamento para conflitos de identidade, dificuldades de relacionamento e de enfrentamento de desafios e também para dificuldades cognitivas desde a infância até a terceira idade.
Para falar mais sobre isso, neste artigo abordaremos como funciona a arteterapia para crianças.
Arteterapia para Crianças
Essencialmente, o arteterapeuta utiliza materiais lúdicos e variados como: tinta, pastel, canetas de diversos tipos, lápis de cor, argila, sucatas etc.
Em vista disso, o processo de trabalhar corporalmente com os materiais para criar algo é um grande atrativo para as crianças.
Definitivamente, esse elemento lúdico é muito eficaz para ajudar as crianças a elaborar conflitos psicológicos e cognitivos, através da expressão criativa.
Nesse sentido, este artigo pretende mostrar como a arteterapia vem a ser um dos meios terapêuticos mais apropriados para atender as faixas etárias da infância.
Pois é durante estas fases iniciais de vida que o ser humano se torna mais criativo.
Por conseguinte, você verá que as expressões criativas são o melhor meio de resolver conflitos durante as primeiras fases de desenvolvimento da personalidade e da construção de identidade.
Fases de desenvolvimento da personalidade da criança
O psicanalista Erik Erikson, que se dedicou ao tratamento de crianças e adolescentes, elaborou uma forma de entendermos como se dá o desenvolvimento da personalidade.
Embora considerasse as teorias de Freud, ele desenvolveu sua própria teoria, baseando-se em suas experiências em atendimentos psicoterápicos.
Para Erikson, o desenvolvimento psíquico da criança vai muito além do desenvolvimento sexual. Pois, outros fatores, como a cultura e o ambiente social e familiar são altamente relevantes na formação da personalidade.
Com isso, demonstra que há etapas bem definidas no decorrer do crescimento de um indivíduo na construção da identidade.
Segundo Erikson, a cada fase de desenvolvimento a criança constrói uma força básica específica, que é a base para a expressão da sua personalidade.
Dessa maneira, uma força se constrói a cada etapa a partir daquela adquirida anteriormente.
Ou seja, cada fase de crescimento cria a base para a construção da fase subsequente, construindo aos poucos uma estrutura de identidade.
Para melhor entender esse processo de construção da força básica da personalidade, imagine que cada fase é como construir um degrau de uma escada.
Então, aos poucos vai se construindo uma estrutura de suporte, como um andaime. Esta estrutura serve para dar sustentação à formação da personalidade.
Idealmente, o objetivo de cada etapa é o de construir-se uma estrutura capaz de suportar os conflitos externos e de assimilar os conflitos internos, ao longo do desenvolvimento da personalidade.
Sobretudo, essa estrutura é a soma das forças básicas adquiridas em cada fase.
Crise de vulnerabilidade
Contrariamente, se em uma fase a construção de identidade, ou seja, da força básica, encontra conflitos, o resultado será uma crise de vulnerabilidade.
Todavia, não há no mundo real a possibilidade de construir-se unicamente fortalezas em cada fase. Dessa maneira, todos os seres humanos desenvolvem partes fortes e partes fracas também.
Cada personalidade tende a encontrar um meio de lidar com esses contrastes e vulnerabilidades, podendo encontrar meios de mitigar as suas fraquezas.
Entretanto, há momentos em que a psique da criança não consegue lidar com conflitos.
Como resultado, encontra dificuldades de adaptação para contornar as dificuldades nas atividades do cotidiano e nos relacionamentos. Com isso o comportamento pode ser afetado, como um sinal de alerta.
Neste caso, há necessidade de buscar ajuda psicológica para dar forças à personalidade para superar os problemas.
Tenhamos em mente que a criança está em fase de amadurecimento físico e psíquico.
A princípio, ela não tem ainda capacidade reflexiva para reconhecer a sua realidade interior e integrá-la à sua realidade exterior e vice-versa.
Consequentemente, é difícil para a criança entender e lidar com o enfrentamento da realidade. Pois ela simplesmente não sabe o que é isso!
Lembremos que na infância a criança, o mundo da criança é completamente dependente do mundo dos adultos.
Sob tal ponto de vista, ela é um ser vulnerável que intui que sua sobrevivência depende do outro.
Em contrapartida, essa dependência é um dos fatores que influenciam a estrutura básica da personalidade entre o nascimento e o final da adolescência.
Tal influência pode pode tanto ajudar a criança a aprender a lidar com a vida, como também pode lhe trazer obstáculos que reforçam ou intensificam a sua vulnerabilidade.
A psique da criança
Como vimos, a psique da criança é muito delicada e pode sucumbir facilmente aos conflitos.
Dessa forma, necessita de atenção em todas as suas fases de vida.
Três a cinco anos: fase do brincar e do interagir
Por exemplo, segundo Erikson, entre mais ou menos 3 e 5 anos, a criança está na fase do brincar e do interagir.
Esta é uma fase importante, porque é quando ela experimenta o mundo através das brincadeiras, que permitem fazer escolhas e a tentar algo novo.
Nessa fase as crianças descobrem a capacidade de criar suas próprias coisas. Com efeito, essacriatividade dá início ao sistema interno de aprendizagem e de identidade.
Primordialmente, elas se reconhecem como um ‘’eu’’, através da sua expressão criativa, por onde seus traços únicos de personalidade começam a despontar.
Porém, é também nessa faixa etária que as crianças começam a interagir com o mundo de maneira independente. Assim, ao criar algo novo e interagir com crianças e adultos podem se sentir livres para se expressar, ou constrangidas.
Em outras palavras, quando se expressam livremente, essas crianças (entre 3 e 5 anos) aprendem o que é iniciativa. Contudo, se suas expressões são bloqueadas ou constrangidas, elas aprendem o que é a culpa.
Assim sendo, as crianças aos poucos tomam consciência do desenvolvimento da deliberação da iniciativa.
Eventualmente, caso essa fase seja bem-sucedida, ou seja, caso a criança tenha aprendido a teriniciativa mais do que a sentir culpa, ela desenvolve uma estrutura básica (força básica) que é o sentido de propósito.
Contrariamente, se a sua criatividade é impedida, isso afeta o seu senso de iniciativa. Como resultado, se estabelece um conflito interno, resultante da inibição da sua criatividade.
Desse modo, essa retração pode, com o tempo, passar a dominar a sua personalidade.
Como consequência, não vai encontrar propósitos definidos para estabelecer-se no mundo.
A partir dos seis anos: idade escolar
Em seguida, na próxima fase, a partir dos 6 anos até a adolescência, a criança entra na idade escolar.
De acordo com o desenvolvimento do senso de propósito (construído na fase anterior)desenvolve-se uma nova estrutura básica, que é a do reconhecimento da competência. Essa fase se estende até o início da puberdade.
Dessa forma, se houve uma preponderância de culpa e inibição da sua expressão criativa, a criança passa a não se reconhecer competente para enfrentar desafios.
Em outras palavras, a criança simplesmente não encontra propósitos, nem recursos para tomar iniciativas frente aos obstáculos.
Logo se sente incompetente.
Isso lhe impede de tentar empreender algo diferente da sua familiaridade. O que acontece é que ela tem medo do fracasso e se sente culpada por não conseguir tentar.
Por este motivo, ela pode se mostrar hesitante e medrosa para tudo o que é novo e desafiante.
Assim, o senso de propósito não poderá ser consolidado por não se sentir competente.
Por consequência, pode ter problemas de rendimento escolar e de relacionamento na família e na escola, principalmente quando se sente comparada com outros.
Como saber se a criança precisa de ajuda?
O melhor modo de saber se uma criança precisa de ajuda é observá-la.
Em primeiro lugar, lembre-se que a natural condição de dependência da criança a faz com que ela necessite ser admirada para ganhar o favorecimento dos adultos.
Por isso não irá expor as suas vulnerabilidades diretamente.
Se ela está sofrendo, não vai lhe dizer. Pois acredita que vai perder a sua admiração.
Tais questões tendem a parecer irrelevantes aos olhos dos adultos, mas podem ser devastadoras para uma criança.
Por mais inteligente e esperta que uma criança pareça ser, pode haver algo lhe incomodando, que passa despercebido. De tal forma que os adultos perceberão somente quando a vida da criança e da sua família passará a ser afetada.
Em síntese, temos que dar atenção aos sinais das mudanças de comportamento das crianças. Por isso observação e acolhimento sem julgamento são necessários.
Porém, há casos em que a ajuda de um terapeuta ou psicoterapeuta se torna necessária.
A arteterapia pode ajudar a criança
A arteterapia para crianças pode ser muito eficaz e ótima opção terapeutica. Este tipo de terapia pode ser aplicado simultaneamente com o atendimento psicológico ou não.
Pois oferece um meio de expressão muito próximo da vivência infantil, porque a criança ainda não sabe se expressar totalmente pela fala.
Ela se expressa melhor pelo corpo e pelos materiais artísticos, porque é criativa por natureza.
O ambiente acolhedor e lúdico da arteterapia beneficia a criança por incentivar sua criatividade.
A essência de toda a personalidade é criativa
O psicólogo Carl G. Jung propõe que a essência dr toda a personalidade é criativa e se desenvolve a partir da infância, seguindo um caminho próprio e individual.
A partir desse pensamento de Jung, outro psicólogo, James Hillman, desenvolveu a teoria da semente de carvalho. Ele entende que a semente da personalidade é única e criativa.
Em outras palavras, a sua essência tem em si a forma futura daquilo em que vai se transformar.
Efetivamente, esse desenvolvimento é análogo ao desenvolvimento biológico, natural de todas as espécies. Como por exemplo, um embrião humano irá sempre revelar um ser da espécie humana.
Em contrapartida, uma semente de carvalho jamais poderá se desenvolver em uma macieira.
Similarmente, a personalidade segue a sua essência. Para tanto, Hillman sugere que para que a personalidade se desenvolva de maneira espontânea e saudável.
Além disso, é necessário que o ser humano encontre no ambiente condições de conduzir esse desenvolvimento, a partir da sua criatividade.
Desse modo, a expressão criativa e espontânea é o meio mais naturalmente criativo para restabelecer a saúde do equilíbrio mental e psíquico.
Com isso, a personalidade da criança se fortalece e adquire meios de se desenvolver de maneira saudável.
Então, nada melhor do que a arteterapia que oferece à criança a possibilidade de ter um espaço criativo.
Acima de tudo, o espaço arteterapêutico é lúdico, dando oportunidade para ela se expressar livremente.
Desse modo a criança poderá encontrar a sua essência criativa, identificar-se com ela, podendo fortalecer sua identidade.
Consequentemente, essa força vai lhe dar estruturas para a sua personalidade se desenvolver com autenticidade e autorreconhecimento.
A arteterapia funciona para a criança
A arteterapia para crianças funciona, porque ativa forças internas da psique de maneira a encorajar a criança a:
- Verbalizar durante o processo criativo;
- Comentar suas reações ao produto da sua criação;
- Movimentar áreas físicas e cerebrais importantes para o desbloqueio de emoções;
- Encontrar sentido e propósito no que produz;
- Encontrar satisfação no processo de produzir, visando uma produção que traz a sua identidade;
- Descobrir as suas competências através do desenvolvimento de múltiplas atividades;
- Entender que as suas produções são sempre importantes para ela mesma e para o arteterapeuta que a acompanha – isso reforça sentimentos autenticidade, que constrói a sua identidade.
Você pode acompanhar exemplos de algumas sessões de arteterapia para crianças, conduzidas por Linda Devonshire. Então terá uma ideia de como o processo de arteterapia acontece.
Assim pode-se ver como que, durante as sessões de arteterapia, os conflitos da criança são transformados de maneira prospectiva e construtiva.
Acima de tudo, trata-se de acolher a criança em suas vulnerabilidades. Em outras palavras, busca-se dar suporte ao ego, partindo das suas fragilidades.
Em vista disso, há uma infinidade de atividades que podem ser aplicadas, como: pintar, desenhar, colar, construir objetos através de sucata, construir personagens de marionetes, criar situações teatrais, etc.
Tais atividades trazem a expressão de imagens que comunicam o conflito e, ao mesmo tempo, indicam um caminho para a construção da identidade, em uma personalidade em formação.
Com efeito, tais expressões criativas, com a condução arteterapêutica, funcionam bem porque:
- Não ameaçam o bem-estar da criança, pois não confrontam diretamente os seus conflitos internos;
- É um meio seguro de expressar os sentimentos e emoções;
- O processo é acolhedor e criativo;
- O processo permite à criança estabelecer um relacionamento saudável com si mesmo.
Concluindo, por meio de expressão lúdica e criativa, o tratamento arteterapêutico é eficaz. Pois visa acolher as fragilidades e apontar um caminho para dinâmica prospectiva da personalidade da criança.
Espero que este artigo tenha sido útil para você saber sobre como a arteterapia funciona para as crianças.
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