A arteterapia é um meio psicoterapêutico de tratamento especialmente recomendado para adolescentes.
Para falar mais sobre isso, neste artigo veremos como funciona a arteterapia para adolescentes e por que é um meio de tratamento bastante eficaz para essa faixa etária.
Arteterapia para Adolescentes
Primeiramente, lembremos que os profissionais arteterapeutas são especialmente treinados em princípios psicológicos e artísticos.
Este treinamento os orienta na escolha dos materiais e enfoque adequados às necessidades específicas dos adolescentes.
Essencialmente, o arteterapeuta utiliza materiais lúdicos e variados como: tinta, pastel, canetas de diversos tipos, lápis de cor, argila, sucatas etc.
Em vista disso, o processo de trabalhar corporalmente com os materiais para criar algo é bastante atrativo para adolescentes.
Pois, na adolescência as emoções estão à flor da pele e a melhor maneira de expressá-las é através de ações corporais, que dão vazão à criatividade.
Adolescer significa crescer e amadurecer.
Na verdade, a puberdade corresponde às modificações biológicas, e a adolescência às transformações biopsicossociais em que estas se inserem.
Por isso, é necessário ter uma visão mais clara e precisa do que constitui um adolescente.
Por conseguinte, você verá que as expressões criativas são o melhor meio de atender as necessidades de tratar os conflitos que surgem na construção da identidade do adolescente, durante essa fase de desenvolvimento da personalidade.
Etapas de desenvolvimento da adolescência
As etapas de desenvolvimento da adolescência estão ligadas ao amadurecimento cognitivo e às transformações biopsicossociais específicas de cada contexto social.
Na fase da adolescência o ser humano atinge o ápice do desenvolvimento cognitivo, desenvolvendo a capacidade do pensamento abstrato, que lhe proporciona um modo novo e mais flexível de manipular as informações.
Segundo, Jean Piaget, na adolescência o ser humano atinge a sua máxima capacidade cognitiva.
Desta forma, o adolescente desenvolve o raciocínio lógico , podendo abstrair conceitos e compreender doutrinas e teorias.
Por isso, um adolescente é capaz de entender o mundo à sua volta assim como um adulto. Embora, não tenha ainda maturidade emocional suficiente para enfrentar a realidade do mundo.
O amadurecimento psíquico do adolescente
Com efeito, o amadurecimento psíquico do adolescente depende fortemente de fatores como a cultura e o ambiente social e familiar.
Em outras palavras, nessa fase, a interação entre a psique e o mundo externo social se torna mais intensa.
Por consequência, inicia-se o processo pela busca de identidade, quando o adolescente enfrenta conflitos interiores, com dificuldades de relacionamento e de enfrentamento de desafios.
Segundo Erik Erikson, em cada fase desse desenvolvimento psicossocial, o ser humano constrói uma força básica específica, que é a base para a expressão da sua personalidade.
Dessa maneira, uma força se constrói a cada etapa, a partir daquela adquirida anteriormente.
Ou seja, cada fase de crescimento cria a base para a construção da fase subsequente, construindo aos poucos uma estrutura de identidade.
Para melhor entender esse processo de construção da força básica da personalidade, imagine que cada fase é como construir um degrau de uma escada.
A cada degrau construído, obtem-se uma estrutura capaz de suportar os conflitos externos e de assimilar os conflitos internos, ao longo do desenvolvimento da personalidade.
Tais estruturas são forças básicas adquiridas a cada etapa de vida.
Então, aos poucos vai se construindo uma estrutura de suporte, como um andaime, para dar sustentação à formação da personalidade.
Crises de vulnerabilidade
Contrariamente, se em uma fase a construção de identidade, ou seja, da força básica, encontra conflitos, o resultado será uma crise de vulnerabilidade.
Todavia, não há no mundo real a possibilidade de construir-se unicamente fortalezas em cada fase. Dessa maneira, todos os seres humanos desenvolvem partes fortes e partes fracas também.
Assim cada personalidade tende a encontrar um meio de lidar com esses contrastes e vulnerabilidades, podendo encontrar meios de mitigar as suas fraquezas.
Entretanto, há momentos em que uma pessoa se sente tão vulnerável que não dá conta de lidar com os conflitos.
Como resultado, encontra dificuldades de adaptação para contornar as dificuldades.
Por isso, nesses casos há necessidade de buscar ajuda psicológica, para dar forças à personalidade para superar os problemas.
Especialmente na adolescência, quando os problemas estão ligados ao processo de identidade pessoal e social.
Crises de identidade na adolescência
A construção da identidade psicossocial inicia-se já bem no início da adolescência.
Segundo Erikson, a estrutura da personalidade, a partir da puberdade, se baseia no senso de propósito e de reconhecimento da própria competência.
Em vista disso, o sentimento de eu é estruturado em base à apreciação social.
Ou seja, é através do reconhecimento da própria destreza em habilidades práticas e intelectuais, tais como:
- da capacidade de interagir,
- de cooperar com o seu grupo
- e de ser reconhecido pelos outros, que a identidade é fortalecida.
Assim, cada ser-humano chega à adolescência com uma necessidade de atuar conforme seu senso de propósito, que é a maneira de sentir-se útil ao grupo social.
Em contrapartida, esse sentido é baseado em competências próprias com as quais se identifica.
Ou seja, na adolescência ocorre a consciência do sentido da identidade através da descoberta de talentos, que dá sentido de: para que e por que a sociedade precisa de mim.
A partir daí, vive-se a necessidade de realizar o sentido de si mesmo, de se sentir necessário ao mundo e o impulso a pertencer a algo que seja exterior e maior do que seu núcleo original, ou familiar.
Então, é esse contraste entre a sua busca interior de identidade e a necessidade de se exteriorizar e de ampliar o seu mundo que está em jogo.
Crises de confusão de identidade
Tais condições geram crises de confusão de identidade, devido à instabilidade afetiva e emocional, que leva à falta de concentração.
A auto imagem do adolescente fica dividida entre os valores que recebeu e os novos valores que quer construir.
Em outras palavras, é a busca de se definir como personalidade e de se estabelecer no seu meio que tendem a gerar crises de vulnerabilidade.
O cérebro criativo e oportunidades de experimentar da adolescência
Haver oportunidades para experimentar é condição chave para o cérebro criativo na adolescência é um meio de exercer a busca de identidade.
De tal forma que as condições de liberdade para experimentar o mundo abrem possibilidades para ser criativo.
Nessa fase toda a improvisação é bem-vinda!
Tal busca assemelha-se à iniciação do herói que Joseph Campbell demonstrou através dos mitos.
Dessa forma, a capacidade de inteligência pode ser medida pela sua funcionalidade para atingir propósitos.
Por outro lado, a capacidade de resolver problemas, que é enriquecida pela criatividade.
Atualmente, a neurociência considera que o cérebro frontal, que é responsável pela resolução de problemas, é também responsável pela capacidade criativa.
Para que as potencialidades dessa área cerebral ganhem fruição é necessário experiência e prática constante.
Coincidentemente, o desenvolvimento e a maturação do córtex pré-frontal ocorrem principalmente durante a adolescência e são totalmente realizados aos 25 anos.
Em especial, essa região do cérebro ajuda a realizar as funções cerebrais executivas, que combinam inteligência e criatividade.
Resumindo, essa região cortical concentra capacidade de resolver problemas, de fazer projeções temporais (entre passado, presente e futuro) e de ser criativamente funcional.
A adolescência é uma fase de transformações importantes
A adolescência é uma fase de transformações importantes, voltada para a necessidade de independência e individualidade, com expectativas sobre papéis futuros na sociedade.
Por outro lado, a adolescência é um período de maturação e aprimoramento de habilidades criativas, conforme aponta a neurociência.
Segundo pesquisas científicas, essa fase corresponde ao desenvolvimento das habilidades criativas para resolução de problemas, que facilitam o avanço em direção ao funcionamento adulto maduro.
Por sua vez, essa fase de transformação requer habilidades adaptativas, que dependem da capacidade criativa.
Naturalmente, isso requer uso do pensamento divergente, e criativo. Ou seja, requer flexibilidade em termos de reestruturação e manipulação de informações e de experimentações.
Assim, a necessidade de liberdade para experimentar se confronta com as pressões sociais de responsabilidade.
Consequentemente, o adolescente se vê em conflito entre a liberdade de criar e de poder escolher fazer o que quer, tendo que assumir as consequências sobre suas escolhas.
A partir disso, vão se formar seus valores e crenças.
Como vimos, a psique do adolescente é muito suscetível às exigências da sociedade e pode sucumbir facilmente aos conflitos.
A crise se estabelece a partir do confronto entre a sua capacidade de autonomia criativa e as restrições que a sociedade impõe.
Por isso, o adolescente deve ser observado sem julgamentos e acolhido em sua capacidade criativa.
Como saber quando o/a adolescente precisa de ajuda?
A maior dificuldade que os pais e cuidadores podem encontrar é entender quando o/a adolescente precisa de ajuda e como pode ajudar.
Em primeiro lugar, porque a fase do adolescer envolve bruscas e repentinas mudanças de comportamento e de atitudes, que resulta em dificuldades de estabelecer vínculos com os adolescentes.
Frequentemente, os adultos são surpreendidos em encontrar aquele sujeito criança repentinamente mudado física e psicologicamente, como se fosse do dia para a noite.
Tais mudanças continuam a acontecer com frequência durante a fase da adolescência, deixando os adultos confusos e sem saber como intervir.
Em segundo lugar, o relacionamento entre o adulto e o adolescente muda. Pois a autoridade do adulto passa a ser questionada pelo adolescente.
Assim, ele/ela já não acredita mais naquilo que os adultos dizem.
Sobretudo, tende a se isolar do ambiente familiar e a resistir agressivamente a qualquer ato autoritário imposto pelos adultos.
Portanto, o grande desafio do adulto é modular a sua forma de se relacionar com o adolescente.
Contudo, o melhor modo de saber se o/a adolescente precisa de ajuda é observando.
Antes de tudo, lembre-se que essa fase é muito difícil para o adolescente. Pois, a descoberta de sua identidade em confronto com as expectativas das sociedade traz muito sofrimento.
Por isso o/a adolescente não irá expor as suas vulnerabilidades diretamente.
Acima de tudo, porque o estresse pelo qual ele/ela passa tende a fazer com que ele perca o interesse em se aproximar dos adultos para pedir ajuda.
Em síntese, temos que dar atenção aos sinais das mudanças de comportamento dos adolescentes. Por isso observação e acolhimento sem julgamento são necessários.
Porém, há casos em que a ajuda de um terapeuta ou psicoterapeuta se torna necessária.
A arteterapia pode ajudar
A arteterapia pode ajudar, uma vez que provê um canal de comunicação, através de linguagem expressiva e criativa.
Deste modo, a eficácia da arteterapia está na possibilidade de estabelecer um relacionamento diferente com adolescentes.
Pois, toca em sua criatividade e proporciona um canal de comunicação que não é ameaçador e sobre o qual o adolescente sente que tem controle.
Quando os adolescentes entram na sala de arteterapia, encontram materiais de desenho e de pintura, assim como massa de modelar, argila, sucatas, etc.
Então, eles são convidados a produzir criativamente qualquer coisa que eles escolham, desde imagens que representam seus sentimentos,
até sonhos ou expectativas que têm para o futuro.
Antes de tudo, esta abordagem, que se dá no ambiente terapêutico, é casual.
E, de certa forma, essa casualidade pode surpreender o adolescente, neutralizando os seus medos de exposição.
Assim o atelier de arteterapia se transforma em um ambiente acolhedor e lúdico, que incentiva a criatividade.
A essência de toda a personalidade é criativa
O psicólogo Carl G. Jung propõe que a essência de toda a personalidade é criativa, que se desenvolve a partir da infância, seguindo um caminho próprio e individual.
A partir desse pensamento de Jung, outro psicólogo, James Hillman, desenvolveu a teoria da semente de carvalho.
Ele entende que a semente da personalidade é única e criativa.
Em outras palavras, a sua essência tem em si a forma futura daquilo em que vai se transformar.
Efetivamente, esse desenvolvimento é análogo ao desenvolvimento biológico, natural de todas as espécies. Como por exemplo, um embrião humano irá sempre revelar um ser da espécie humana.
Em contrapartida, uma semente de carvalho jamais poderá se desenvolver em uma macieira.
Similarmente, a personalidade segue a sua essência. Para tanto, Hillman sugere que é essencial que a personalidade se desenvolva de maneira criativa, espontânea e saudável.
Além disso, é necessário que o ser humano encontre no ambiente condições de conduzir esse desenvolvimento, a partir da sua criatividade.
Desse modo, as atividades de expressões criativas oferecem uma maneira mais espontânea e criativa
para restabelecer a saúde do equilíbrio mental e psíquico.
Com isso, a personalidade se fortalece e adquire meios de se desenvolver de maneira saudável,
capaz de suportar as pressões externas e os conflitos internos a cada etapa da vida.
Então, nada melhor do que a arteterapia, que oferece aos adolescentes a possibilidade de ter um espaço livre e criativo.
Acima de tudo, o espaço arteterapêutico é lúdico, dando oportunidade para ela se expressar livremente.
Dessa forma, estabelece-se uma um novo caminho para o adolescente encontrar a sua essência criativa, identificar-se com ela e fortalecer a sua identidade.
Consequentemente, essa força vai lhe dar estruturas para a sua personalidade se desenvolver com autenticidade e autorreconhecimento.
A arteterapia funciona
A arteterapia funciona, porque ativa forças internas da psique de maneira a encorajar o adolescente a:
-
Verbalizar durante o processo criativo;
-
Comentar suas reações ao produto da sua criação;
-
Movimentar áreas físicas e cerebrais importantes para o desbloqueio de emoções;
-
Encontrar sentido e propósito no que produz;
-
Encontrar satisfação no processo de produzir, visando uma produção que traz a sua identidade;
-
Descobrir as suas competências através do desenvolvimento de múltiplas atividades;
-
Entender que as suas produções são sempre importantes para ela mesma e para o arteterapeuta que a acompanha – isso reforça sentimentos de autenticidade, que constrói a sua identidade.
A arteterapeuta Deb Shoemaker nos traz um exemplo típico de atividade aplicada a adolescentes.
Especificamente, ela demonstra o efeito terapêutico da colagem, que ativa forças re-organizadoras como “colocar as peças no lugar”.
Assim, pode-se ver como que, durante as sessões de arteterapia, os conflitos dos adolescentes podem ser transformados de maneira prospectiva e construtiva.
Acima de tudo, como vimos, as atividades arteterapêuticas oferecem suporte ao ego, partindo das suas fragilidades.
Em vista disso, há uma infinidade de atividades que podem ser aplicadas, como: pintar, desenhar, colar, construir objetos através de sucata, construir personagens de marionetes, criar situações teatrais, etc.
Tais atividades trazem a expressão de imagens que comunicam o conflito e, ao mesmo tempo, indicam um caminho para a construção da identidade, em uma personalidade em formação.
As expressões criativas, como condução terapêutica
Com efeito, tais expressões criativas, com condução terapêutica, funcionam bem porque:
-
Não ameaçam o bem-estar do adolescente, pois não confrontam diretamente os seus conflitos internos;
-
É um meio seguro de expressar os sentimentos e emoções;
-
O processo é acolhedor e criativo;
-
O processo permite estabelecer um relacionamento saudável com si mesmo.
Desta maneira, a arteterapia pode oferecer um sistema de apoio para adolescentes que sofrem de falta de auto-estima, por sentimentos de fracasso social ou acadêmico.
Além de tudo, a arteterapia pode também ajudar no tratamento de adolescentes com depressão e/ou vítimas de abuso.
Concluindo, como sendo um meio de expressão lúdica e criativa, o tratamento arteterapêutico é eficaz.
Pois, visa acolher as fragilidades e apontar um caminho para ativar forças organizadoras,
através de dinâmicas prospectivas que contribuem para dar suporte à personalidade do adolescente e à formação de sua autêntica identidade.
Espero que este artigo tenha ajudado a esclarecer como a arteterapia funciona no tratamento com adolescentes.
Se houver qualquer dúvida, deixe sua pergunta ou o seu comentário.
Deixe um comentário